24 janeiro 2017

A saúde que negligenciamos



Há dias, conversa puxa conversa, e dei por mim a falar com umas colegas sobre o acto de ir ao psicólogo. Eu nunca fui a nenhum mas volta e meia penso que me faria muito bem. Aliás, acredito que faria bem a toda a gente!

Começando pelo meu caso, desde pequena que dou por mim a ter pequenas crises existenciais: nada em grande nem frequente, mas acho que é um mal comum de quem é muito pensador. Desde nova que me lembro de me deitar e passar em memória o meu dia, os meus objectivos para amanhã, os meus sonhos de vida mas às vezes, muito de vez em quando, dou por mim a divagar por questões mais profundas que me atormentam quando aparecem. Questões de fatalidade e falta de controlo que têm a ver com o passar do tempo. São temas que eu não debato naturalmente porque são dados adquiridos, não são possíveis de controlar ou modificar e fazem parte da vida. É o que é. Embora tenho muitos e bons amigos, há coisas que não quero discutir com eles, não acredito que consiga explicar-me totalmente e eles dificilmente alcançarão as minhas questões e ainda menos terão a capacidade de me guiar para respostas. Acho que um psicólogo me poderia ajudar a encontrar mecanismos para me entender e para me desembaraçar destes dilemas. Mas depois passa... e eu esqueço a vontade de me fazer ouvir.

Contrariando as minhas acções, acho que da mesma forma que fazemos regularmente - ou devemos fazer - análises, visitas ao dentista, check ups ginecológicos, exames visuais, entre outros, também devíamos fazer um despiste regular à nossa saúde mental.
Normalmente, preocupamo-nos muito com a saúde física, somos preventivos e até vamos ao médico periodicamente só para ver se está tudo bem ou para responder a sinais que o nosso corpo nos dá: sim, o nosso corpo é tão fantástico que nos alerta quando algo está errado. Mas curiosamente, somos maioritariamente negligentes no que toca à mente, e logo esta que nos consegue enganar tão bem. Infelizmente, cada vez conheço mais casos de depressões e esgotamentos; os motivos são os mais variados! E a maior parte destes casos é de pessoas que vivem numa família estruturada, que têm amigos, colegas de trabalho... mas ninguém viu essas doenças a chegarem até eles terem atingido o fundo do poço. E não é por falta de atenção ou cuidado, é porque são doenças muito inteligentes que se escondem em sorrisos falsos e que aconselham a esconder porque "vai passar". E depois não passa...

Acho que devia haver uma mudança de atitude e devíamos deixar de ser reactivos no que toca à saúde mental e passar a ser preventivos. 

Claro que isto são mudanças que levam tempo a atingir massas. Eu própria que estou aqui cheia de certezas ainda não marquei uma consulta... e depois, ainda há um certo preconceito com a psicologia: é para maluquinhos ou pessoas já no abismo. E não digam que não! É verdade que os tempos mudaram e começa a ser encarado com mais naturalidade, mas ainda não é completamente aberto este tema.

E mais! O preconceito começa nas seguradoras: não tinha noção, mas uma grande parte dos seguros de saúde (só não digo a maioria porque não fui investigar a fundo) não comparticipa estas consultas! É como se fosse encarado um luxo, um capricho: não é uma doença do corpo físico, não é merecedor da mesma importância. Fiquei chocada quando me apercebi desta exclusão! Tenho um seguro de saúde pago pela minha empresa e se me perguntarem que áreas da minha saúde estão em maior perigo como consequência do trabalho diria, sem dúvida, os meus olhos (porque passo o dia a olhar para um monitor) e a minha coluna (porque a minha postura nem sempre é a melhor) mas, em primeiro lugar, a minha saúde mental porque cada vez mais sinto uma pressão imensa e um stress constante que inclusivamente já levou alguns colegas meus para casa, de baixa.

14 comentários:

  1. Como alguém que se formou em Psicologia, não podia estar mais de acordo! Claro que ainda há estigma, ainda há muito preconceito e ideias parvas ligadas à ida a um Psicólogo. Hoje em dia nem faz sentido que ainda assim seja, mas é verdade. E depois não se dá a devida importância à saúde mental, como se tudo o que se passasse na nossa cabeça fosse fácil de mudar... do tipo "estou triste, mas se pensar em coisas positivas fico melhor!", "só me sinto mal porque não ponho a minha capacidade mental em coisas mais felizes", "só tem depressão quem quer! Pensa positivo, sai de casa, vai estar com amigos, que isso passa!!!". É ridículo. A mente tem um poder incrível, sim, mas às vezes é preciso um guia para nos ajudar a lá chegar! :)

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  2. Tão verdade o que escreveste. Somos completamente negligentes no que à saúde mental diz respeito. E achamos fracos os que caem em depressão ou têm esgotamentos.
    Não devia ser assim.

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  3. Concordo contigo, há que prevenir também este tipo de doenças. Eu confesso que tive uma má experiência quando fui pela 1ª vez á psicóloga quando tinha uns 18 anos. cheguei lá falei, falei e o fim ela diz-me: Precisa de conselhos ou consolo?? E eu fiquei parva e vim-me embora. Nunca mais lá voltei mas tento sempre fazer uma psicoterapia, conversando mais profundamente com pessoas que me são próximas, ajuda muito! Uma beijoca!! :)
    ***

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  4. sou muito parecida contigo, mas talvez pelo stress mesmo do dia a dia acabamos por nos negligenciar e deixar andar .

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  5. Olha, eu concordo a 100%... Contra mim falo, porque sou uma totó que tem a mania que consegue ultrapassar tudo sozinha. Há uns tempos, a falar com uma psicóloga, ela disse-me que ela própria tinha de recorrer a terapia e que a ajudava imenso a organizar a cabeça. Acredito. Sinceramente, acho que o grande problema é o preconceito de que falas. As pessoas têm vergonha de precisar de ajuda... Tenho amigos que me chegaram a dizer, em relação a outras pessoas, "toda a gente tem problemas, não se podem deixar afectar por essas coisas", mas cada um é como é. Às vezes é complicado lidar... Pensar demais pode ser um problema, não pode? :x

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  6. Falar das nossas coisas mais pessoais ajuda-nos sempre a colocar tudo em perspectiva.

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  7. A ideia de que os psicólogos são só para os maluquinhos já devia estar ultrapassada. Se não fosse tão caro acredita que eu faria umas sessões de vez em quando. Concordo que todos devíamos ir ao psicólogo!

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  8. Com as Nossas rotinas, o stress do dia a dia, a vida profissional mais competitiva, facilmente descuidamos da Nossa saúde mental.Uma questão que deveria ser mais abordada e de uma forma mais aberta sem estigmas ou preconceitos.
    Beijinhos e boa semana

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  9. Concordo plenamente! Já fiz psicoterapia e foi das melhores coisas que me aconteceu! Ajudou-me imenso e posso mesmo dizer que foi o impulso de que precisava para mudar a minha forma de estar na vida! Serei eternamente grata à minha psicóloga por me ter ajudado tanto!

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  10. concordo completamente. deveríamos por mais em primeiro lugar a saúde mental, e não apenas quando já "estamos mal".
    http://arrblogs.blogspot.pt/

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  11. Não podia estar mais de acordo...e acredita mesmo !!!
    Beijinhos
    elisaumarapariganormal.blogspot.pt

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  12. Em Portugal infelizmente é assim, mas temos de ignorar o preconceito porque como disseste, assim como fazemos consultas de rotina, seja no médico ou dentista, também devíamos ir ao psicólogo de vez em quando, todos temos os problemas seja pelas mais diversas razões e nem sempre os deitamos cá para fora e isso acaba por prejudicar a nossa saúde. Gostei muito de ler o que escreveste, já estou a seguir o blog. Beijinhos, Life with Ju

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  13. Olha, gostei muito de ler este texto. Concordo plenamente contigo, em tudo.
    Só que às vezes não sei como o fazer, como procurar essa ajuda e penso que se conseguirmos falar com alguém ou desabafar escrevendo ajudará...
    Beijinhos

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  14. Tens toda a razão, a verdade é que raramente pensamos nisso e ainda há muito preconceito à volta desse tema. Mas é como dizes, deveria ser visto com mais naturalidade e deveria ser algo normal, fazer um check-in psicológico.

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